Sou um lago que reflete o azul do céu,
embora não seja o céu.
Mesmo sendo lago, tenho o sol em meu espelho,
tenho as nuvens em minha superfície,
tenho a lua e as estrelas me adornando.
Vou mudando de forma, continuamente,
a depender da estação do ano.
Posso tornar-me menor ou maior,
mais calmo ou mais movimentado,
mais cristalino ou com águas mais turvas.
O mais importante é a riqueza que guardo em meu interior,
os peixes que abrigo, a vida que habita ao meu redor,
as flores que permito existir às minhas margens e
as aves que vêm se encontrar e brincar em minhas águas.
Nunca serei o mesmo e sempre serei eu mesmo.
Não temo a mudança – eu a abençôo.
E quando, mais tarde, deixar definitivamente de ser lago,
minha água habitará o oceano ou o mais profundo veio da terra;
meu leito será, talvez, uma floresta;
e minha memória estará eternizada em todos
os que se beneficiarem com o meu ser inconstante.
Texto extraído do livro Mudando para melhor – Kau Mascarenhas .